Capitulo 21

   Saltando sobre as poças d'água formadas pela chuva passageira no reino, Meowth se aproximava do grande castelo da Queen Serperior.

 — Graças aos céus, Meowth! — a rainha rasteja na direção de Meowth, que molhava o tapete verde da sala. — Você está encharcado. Deve ter pego um resfriado. Mas não tem importância, é bom te ver aqui! Me assustei quando fugiu.

 — Rainha... Eu visitei o túmulo de Blitzle e Growlithe no cemitério do reino. Eu já me sinto melhor, precisava ir lá.

 — Quem? — a rainha olha para Meowth, que arregala os olhos. Percebendo que ele começaria a chorar, ela solta uma risadinha abafada. — Deixe, já lembrei. Lymus Day foi uma tragédia, de fato.

 — Meow, eles eram meus parceiros, formávamos o trio perfeito. Mas não quero pensar nisso agora. Tenho que partir. Estou disposto à ir para a Flame Area.

 — O quê? Depois de tudo o que fez lá, teria coragem de voltar? Não acho que vão o aceitar.

 — Meow! Não importa! Preciso avisar ao Mike, antes que seja tarde. Aquele cajado e o Lymus Day... Eu tenho as respostas. Sou importante para a profecia. E já é hora do gatinho parar de ser medroso! Passei anos fugindo de combates depois da perda de Blitzle e Growlithe, mas é hora de mostrar quem eu já fui.

 — Meowth... Veja lá o que vai fazer. Posso mandar alguém para ir com você. Talvez Granbull ou aquela nova, Clefairy.

 — Não. Vou sozinho. Obrigado por tudo, Queen Serperior! — Meowth se agarra ao pescoço da rainha, a surpreendendo com um abraço. Em seguida, corre para o quarto de hóspedes, de onde volta com seu violão preso por uma cordinha nas costas. — Não se preocupe comigo! Meow!

   O gato agora corria pela noite escura, seguindo pela rota ao norte, enquanto alguém o acompanhava com o olhar de uma janela do castelo, e não se tratava da rainha, mas sim de Emolga, sua ajudante. Pela primeira vez em muito tempo estava confiante, como se estivesse se livrado de um peso em suas costas.

Pokemon Unova - The Mythical World. Capitulo 21: Memórias de Lymus - Parte 2

   Os primeiros raios de sol já iluminavam o céu, o que significava que estava amanhecendo. Embora não quisesse, as curtas perninhas de Meowth já estavam cansadas e ele precisava descansar. Procurando ao seu redor, ele encontra um banco de madeira, onde se senta.

 — Ainda falta bastante... — o felino observa a longa estrada rochosa, parecendo estar maior do que quando ele estava no inicio. — Deveria ter pego água no reino. Agora estou com sede, meow! Se bem que acho que estou ficando velho, quando era mais novo atravessei isso em um dia.

    Alguns dias após a tragédia do Lymus Day, o reino ainda estava abalado, o exército enfraqueceu e estávamos completamente desprotegidos. E eu ainda não havia conseguido superar o que aconteceu com Growlithe e Blitzle. Mas só pensava agora no cajado e em maneiras de me livrar dele. Já havia tentado de quase tudo, mas ele sempre voltava.

 — Hey, gatinho! Por que não tenta ir para o reino da Flame Area? Só Pokemon musculosos e poderosos andam por lá, quem sabe destruam esse cajado de uma vez por todas, hein?

 — Meow... Sim, meow, talvez!

    Aquela ideia realmente me animou. Parti para a Flame Area confiante e pensando positivo, o que provavelmente me fez chegar lá muito rápido.

 — Meow, grandão, pode me ajudar? Derreta esse cajado com o seu fogo!

 — Huh? Pensei que você fosse um Caterpie ou algo assim! Passe o cajado para cá! — o grande monstro de fogo junta os braços, disparando jatos de lava contra o cajado, o que de nada adiantou. O cajado parecia até mais resistente do que antes. — Como? Impossível! Posso derreter qualquer coisa!

 — Hyaaahh!! Tome uns socos da poderosa Mawile! — Mawile colide seu punho envolto de energia com o corpo do cajado, que não dava nem sinais de danos. — O quê? A poderosa Mawile não deu conta desse cajado! A poderosa Mawile se sente idiota...

 — O Meowth agradece por tentar... — Meowth encara o cajado, mordendo o lábio inferior. — Por que você não me deixa? Eu o odeio!

 — A poderosa Mawile pensa que está maluco por falar com esse cajado, mas acha que o Golurk pode ajudá-lo com seu problema.

   Então procurei por Golurk, o antigo governante da Flame Area. Já havia ouvido falar dele, era assustadoramente forte. Marquei hora e fui até seu castelo, onde o encontrei sentado numa grande cadeira com estofado vermelho, proporcional ao seu tamanho.

 — Então, o que quer?

 — Meow... Gostaria de saber se conhece alguém que possa destruir esse cajado. Já tentei de tudo, mas ele nem arranha! E não adiantou tentar queimá-lo.

 — Pode pedir ajuda ao Conkeldurr, meu braço direito. Ele é muito habilidoso, com certeza pode achar um jeito.

   E foi o que fiz. Procurei Conkeldurr, outro que já havia ouvido falar. Era famoso por suas grandes construções, como o castelo da Queen Serperior. 

 — Não tem como esse cristal não rachar! — Conkeldurr ergue os dois pilares de pedra que sempre carrega e os afunda com toda sua força contra o grande cristal do cajado.

 — Força!!! ARRHHHH!! — o chão começa a se rachar com a quantidade de força que Conkeldurr estava usando, até que Golurk o manda parar. Assim que os pilares de pedra são retirados de cima do cajado, o cristal se mostra perfeitamente bem. — É impossível. O cajado é indestrutível.

 — Não. Ele parece estar envolto por algum tipo de magia. — Golurk observa, agora com o cajado em mãos.

 — Meow... É uma longa história.

   Assim contei à Golurk e Conkeldurr tudo sobre o cajado e como o consegui, mesmo sabendo que provavelmente me chamariam de louco.

 — Então você não venceu o dragão? Ele se transformou nesse... cristal? — Golurk parecia chocado, soltando de imediato o cajado.

 — Meow, sim.

 — É muito difícil de acreditar. — ele se levanta, o que faz todo o castelo tremer. — Com licença, preciso ir. Conkeldurr, leve Meowth até um dos quartos de hóspedes.

 — Claro, senhor.

   Naquela noite, o que Meowth não sabia, é que Golurk havia ido ao encontro de Gothorita, sua assistente e conselheira pessoal.

 — Hnmnm... — envolta por uma aura rosa, Gothorita refletia, fazendo seus pensamentos ganharem vida, se materializando ao redor de si.

 — E então?

 — Sim... Essa é a profecia. A profecia do escolhido!

 — Aquela que você já havia me contado há uns meses?! Não tem como ser...

 — Mas é. O cajado que o gato trouxe trará a destruição. Está totalmente relacionado com a profecia. O cajado cruzará o caminho do escolhido, que poderá decidir o que vai fazer com a nossa realidade.  Verdade e Ideal. Branco e Preto. Reshiram e Zekrom combaterão no dia prometido. A segunda parte do Lymus Day.

 — Se o cajado está com o gato e o escolhido um dia o encontrará... Eu posso impedir. Sem o gato, o cajado ficará comigo, e nunca o darei para alguém.

 — Mas é claro, senhor.

 — Gothorita, eu irei acabar com isso de uma vez por todas. Nossa realidade estará a salvo, nada a ameaçará. Assim protegerei todos da Flame Area! — então, o grande líder corre na direção do quarto de Meowth, provocando tremores por todo o reino. Gothorita lambe os lábios, sorrindo.

 — Idiota.

   Quando estava dormindo, acordei com um susto. Golurk havia destruído a porta do quarto e também parte da parede, apenas com um empurrão. No momento ele carregava algum ataque luminoso saindo de seu peito, que logo foi disparado em minha direção. Por sorte consegui desviar, me salvando de ser destruído junto com a cama e a janela.

 — Golurk, o que é isso?! Meow!

 — Cale-se, gatinho! Quanto antes eu o matar, mais cedo esse mundo estará sem ameaças!

 — O quê? — Meowth salta para o lado, desviando de um soco de Golurk que abrira uma cratera no chão, onde se podia observar Conkeldurr tomando banho.

 — Eek!

 — Meow? — Meowth observa o cristal do cajado começar a brilhar, liberando feixes de luz. Em sua mente, uma voz áspera repetia uma frase. "Use-me, você quer se livrar dele". Rapidamente, o gato ergue a arma, mirando no peito de Golurk, onde um raio foi disparado. O governante da Flame Area foi atingido em cheio, caindo e quebrando de vez o chão. — Co-como?! O cajado... ele me controlou!

 — Grr... — Golurk já se levantara, agora mais irritado do que antes.

 — Myah! Tenho que correr! — Meowth, segurando firme no cajado, percorre todo o castelo, procurando por uma saída, até chegar na cozinha, onde acabou encurralado. Observando os restos de comida e pratos sujos, o gato sorriu. — Vem lavar a louça!

 — O quê? Ahh! — Golurk leva seu pesado braço para a frente de seu rosto, tentando se proteger dos pratos sujos que Meowth arremessava em sua direção.

   Naquele momento, a voz novamente soou em minha mente, dizendo que a partir de agora "Vem lavar a louça" era o código que desbloqueava os poderes do cajado, e que apenas quem eu confiava poderia usá-lo.

 — Meow, não tem mais pratos!

 — Haha! E agora, como pensa em me deter? — Golurk é surpreendido por uma cadeira arremessada contra seu rosto. Agora estava mesmo furioso.

 — Quem sabe assim você não levanta essa bunda gorda da sua cadeira gigante e sai para comprar algo para esse castelo!

 — Você é muito irritante. — Golurk gira seu corpo, ganhando a forma de um canhão. Meowth tenta recuar, porém, agora erguia o cajado novamente, como se seu corpo não obedecesse aos seus comandos.

 — Morra! Pelo bem de todos!

   Não sei o que aconteceu naquele momento porque fechei os olhos, mas o disparo de Golurk foi enorme, até hoje não vi nada igual. Quando tornei a abrir os olhos, o cristal do cajado havia absorvido todo o golpe, me protegendo. Golurk não teve reação alguma alem de se ajoelhar sem forças. 

 — Eu vou matar você... — Golurk tenta se reerguer, porém, seus enormes braços são algemados e grandes poderosos Pokemon seguram suas costas. — O que isso significa? Me soltem ou os mato também!

 — Meow, o prendam! Ele destruiu meu quarto tentando me matar!

   Golurk foi preso e expulso do poder, o que não foi uma notícia agradável para os habitantes da Flame Area que o adoravam e admiravam. Passei a ser odiado por todos de lá e acabei sendo expulso por Conkeldurr, junto com o cajado que todos chamaram de maldito. Meses depois, Golurk desapareceu e ninguém na Flame Area teve novas notícias dele.

 — Meow, é hora de voltar a andar! Depende de mim. — o gato se levanta do banco e volta a correr na direção do reino de Emboar.

Continua